terça-feira, 10 de maio de 2011

Almor - Parte 1

Há algo muito mais grandioso que o amor, chama-se: almor. Escusam de ir pegar nos dicionários e procurar, não irão encontrar lá nada sequer parecido e muito menos com este significado.

Almor é um sentimento que tal como o amor se sente poucas vezes na vida. Eu ainda só senti uma, por uma pessoa muito especial. É algo que gruda na nossa alma e que ao contrário do amor não passa, nem com o andar do tempo. O amor tem uma necessidade absoluta de se alimentar. O almor não, alimenta-se a si próprio, a alma alimenta-o com as recordações. O almor não precisa da presença física do outro, porque tem-no sempre presente dentro de si. O almor subsiste por si próprio, não precisa de cuidados especiais, nem de atenção. O almor não precisa de abraços, beijos, mimos, toques, mãos dadas, atenções, não precisa de ser elogiado. O almor é independente do objecto almorado. O almor não precisa de ser reconhecido, que se lembrem dele, que suspirem por ele. O almor não precisa que lhe digam que nunca vai morrer, porque o almorado sabe que quem o almora, jamais o esquecerá. O almor não precisa de ser escrito, nem falado, não há quem lhe dedique poemas, o almor só é sentido por quem tem essa capacidade grandiosa de almorar.

O almor não quer ser almorado. O almor não pede nada em troca, o almor só quer almorar. De vez em quando gosta de ter notícias do almorado, mas não é por causa destas que ele vive ou morre. Ele vive porque foi e ainda - mesmo depois de tudo - é forte. Aconteça o que acontecer o almor vai lá ficar, intacto. Quem almora até pode vir a amar e ser amado por um outro alguém, que o almor vai continuar ali, quieto e calado.

O almor não precisa de nenhum cuidado especial, alimenta-se de sorrisos e esses são trazidos pelas recordações que estão naquele lugar no meio do peito. O almor arrepia os vasos sanguíneos da alma (coisa que eu nem sabia que tinha) e provoca choques eléctricos. O almor também dá para chorar, mas é um choro com uma emoção estranha, que quem já sentiu não consegue descrever. Um choro que num minuto enche um balde de lágrimas. Mas um choro silencioso de quem não o sabe explicar. O almor sorri sozinho muitas vezes, vem do nada, por vezes em filas de trânsito. O almor é independente das atitudes do ser almorado. Pode ser injusto, egoísta, cruel que o almor não é beliscado. Em comum com o amor só tem o espaço que ocupa: aquele lugar no meio do peito, que eu teimo em chamar alma.

O almor é acompanhado desta música e deixa-nos felizes, sempre. O amor nem por isso.